A pedido, o site dá sequência a uma série de artigos técnicos dos acadêmicos e professores do Grupo de pesquisa PeixeGen da Universidade Estadual de Maringá – UEM. O site e sua versão impressa está sempre a disposição para a publicação desse tipo de trabalho.

Pesquisa desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa PeixeGen, da Universidade Estadual de Maringá – UEM, aponta que a genética e a suplementação foram responsáveis pelo incremento na porcentagem de lipídios totais e melhoria na qualidade do filé de tilápias cultivadas em tanques-rede.
Por
Jailton da Silva Bezerra Júnior – Programa de Pós-Graduação em Zootecnia – UEM
Carlos Antonio Lopes de Oliveira – Programa de Pós-Graduação em Zootecnia – UEM
César Sary – Programa de Pós-Graduação em Zootecnia – UEM
Eric Costa Campos – Programa de Pós-Graduação em Zootecnia – UEM
Jorge Vieira Barbosa – Empresa Aquaporto/Aquaamérica
Jesuí Vergílio Visentainer – Programa de Pós-Graduação em Química – UEM
Ricardo Pereira Ribeiro – Programa de Pós-Graduação em Zootecnia – UEM
O consumo da carne de peixes na alimentação humana é normalmente associado a hábitos alimentares saudáveis, devido aos benefícios à saúde, principalmente no que se refere à profilaxia das doenças (cardiovasculares, autoimunes, inflamatórias e cancerígenas), além disso, estimula o sistema imunológico, manutenção cerebral e fornece nutrientes vitais para o nosso organismo (Peet & Stokes, 2005; Tonial et al. 2009; Brasky et al., 2011). Em 2017, no Brasil, cerca de 73% das mortes foram devido a estas doenças (OMS, 2017; Griti et al., 2015).
Peixes cultivados em água doce quando comparados aos cultivados em água marinha apresentam baixos níveis de ômega-3 e altos níveis de ômega-6. A maior parte destes nutrientes em peixes de água salgada (peixes de captura) é devido a base alimentar ser formada por alimentos ricos em lipídios, do qual a maior parte destes são compostos por ácidos graxos poliinsaturados: eicosapentaenoico (EPA, 20:5n-3) e docosaexaenoico (DHA, 22:6n-3). Esses ácidos graxos são considerados essenciais à saúde, pois não são sintetizados pelos seres humanos (Henderson & Tocher, 1987).
Os peixes de captura também são uma excelente fonte de ômega-3 para à alimentação humana, entretanto, algumas limitações podem interferir na disponibilização aos consumidores e na composição lipídica, entre elas, a sazonalidade da captura. Na aquicultura, esta limitação não é considerada, devido a possibilidade de mudança no perfil de ácidos graxos por meio do melhoramento genético e modulação na dieta (Carbonera et al., 2014 e Nguyen et al., 2010).
A tilápia é a espécie cultivada em água doce mais produzida no Brasil e apresenta uma concentração baixa no teor de lipídios e um perfil dos ácidos graxos modulável.
Pesquisadores do grupo de pesquisa PeixeGen, da Universidade Estadual de Maringá (UEM) em parceria com a empresa privada especialista em genética de tilápias, Aquaamérica, realizaram por meio do melhoramento genético e da suplementação na dieta, um estudo que visou elevar o teor de lipídios e melhorar a composição dos ácidos graxos contidos no filé de tilápias, desta forma, identificando e deixando à disposição dos produtores material genético de qualidade comprovada, que além de garantir o aumento da produção e/ou qualidade e consequentemente na lucratividade, disponibilizará aos consumidores um produto final com excelente qualidade nutricional.
Metodologia
Os pesquisadores realizaram inicialmente a seleção de fêmeas da variedade Aquaamérica com alto e baixo valor genético para a porcentagem de lipídios totais no filé (Garcia et al., 2017). Em seguida, foram direcionados acasalamentos utilizando machos do programa de melhoramento genético de tilápias da UEM não selecionados para porcentagem de lipídios totais, dando origem a 2 grupos genéticos (Grupo 1- Alto valor genético e Grupo 2- baixo valor genético). Após o período de reprodução, realizaram a coleta aleatoriamente de 800 alevinos revertidos de cada grupo genético que foram distribuídos e cultivados por 150 dias em 16 tanques-rede (1m x 1m) na Unidade Demonstrativa de Produção em Tanques-rede, da UEM, localizada no Município de Diamante do Norte – PR, no período de janeiro a junho de 2017. Os animais receberam ração sem suplementação e ração suplementada com um produto comercial à base de farinha da microalga marinha Schizochytrium sp. (fonte de DHA), nos últimos 45 dias antes do abate.
Resultados alcançados
Antes da suplementação não foi verificado diferença no perfil dos ácidos graxos. Contudo, após o fornecimento da dieta suplementada com a fonte rica em ácidos graxos da série ômega-3, os resultados indicaram que o grupo genético selecionado para alto teor de lipídios no filé apresentou o peso médio à despesca (669,14g) inferior a 9,42% quando comparado ao grupo genético 2, no entanto, o rendimento de filé
“O investimento em melhoramento genético é uma ótima alternativa para aumentar o teor de lipídios totais…” |
(%) foi similar, ou seja, pouco mais de 37%. Por outro lado, o grupo selecionado (Grupo Genético 1) teve um incremento de aproximadamente 8,4% no teor de lipídios totais. A suplementação foi responsável pela redução em aproximadamente de 10,5% na razão ômega-6/ômega-3 e associado a isso houve um aumento de 130% na concentração de DHA no filé de tilápias (Tabela 1). Os resultados indicaram em melhoria na qualidade nutricional do produto final (filé), pois quando consumido pela população pode desempenhar um papel importante no metabolismo, principalmente na prevenção de várias doenças.
Tabela 1. Razão n-6/n-3 e concentração de DHA (mg/100g de amostra) no filé de tilápias
n-6/n-3 | DHA | |
Sem Suplementação | 9,97 | 8,49 |
Com Suplementação | 9,13 | 19,55 |